Por: Guilherme Barbosa
Sou o responsável pela Revista do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Minas Gerais (Minaspetro) há quatro anos. É instigante e desafiador atender esse cliente, dada a grande variedade de assuntos e o papel extremamente combativo que a revista costuma assumir perante os diversos órgãos que fiscalizam o setor. Com a greve dos caminhoneiros, em maio, fiquei diante do que seria talvez a matéria mais importante da história da publicação – afinal, o setor nunca havia presenciado tamanha crise, que deixou os postos dias e dias sem ter o que vender.
O texto precisava mostrar como o Sindicato havia atuado durante a greve e havia grande expectativa de como o Minaspetro se posicionaria sobre o imbróglio. O trabalho demandou uma semana de apuração e envolveu entrevistas com o presidente da entidade, advogados, economistas e revendedores, além de uma ampla pesquisa para verificar o que a imprensa havia publicado sobre o assunto. Uma reportagem de tamanha importância também demandava, contudo, uma visão externa, de alguém que pudesse falar com propriedade sobre o setor e, sobretudo, das ações tomadas pelo governo federal para dar fim à greve.
Em conversa com meu editor, Alexandre Magalhães, informei da vontade de ter uma entrevista com alguém de peso. Não hesitei em pensar grande. Imediatamente, Alexandre e eu demos início a um brainstorm e listamos alguns nomes que nos interessavam. Surgiram ex-presidentes da Petrobras, ex-ministros de estado, políticos de renome, especialistas no setor de óleo e gás, até que eu pensei: “E o Delfim Netto? Ele está sumido.” Alexandre me olhou cético e respondeu: “Mas será que ele fala com você?”
O nome de Delfim Netto não surgiu do acaso – a trajetória do economista e professor licenciado da USP dava razão à escolha. Foi aí que respondi ao Alexandre. “Ué, não custa tentar.”
Como todo início de apuração, recorri ao Google na tentativa de saber onde andava o ex-ministro. Entrei no site da USP em busca de um contato. Consegui um telefone que me levou a uma pessoa, que me levou a outra… Até chegar à secretária de Delfim Netto. Betty, a mulher do outro lado da linha, era extremamente objetiva e confirmou que trabalhava mesmo com o entrevistado que eu procurava. Expliquei com paciência a demanda, descrevi o perfil da publicação e informei qual seria a abordagem da matéria. Betty respondeu que repassaria o pedido ao professor para que ele decidisse se falaria ou não. Aguardei. Mas, precavido (vai que, né?), fiz a quatro mãos com Alexandre uma pauta de perguntas a Delfim. Fechamos um questionário com 16 perguntas que poderiam ser feitas a ele.
No dia seguinte (isso mesmo, um dia depois), eis que meu telefone toca e do outro lado da linha a secretária da agência informa: “Delfim Netto quer falar com você.” Eita! Tomei um susto. Ao passar a ligação, era Betty informando que o professor teria 15 minutos para falar comigo. Reduzimos a pauta de perguntas para nove e a entrevista transcorreu conforme imaginávamos. Ter uma opinião de peso como a de Delfim Netto na matéria enriqueceu o texto e pautou outros assuntos para as edição seguintes. Foi uma experiência muito legal! A lição que tiro disso tudo é que se você é repórter, nunca pense que sua matéria está suficientemente completa – é sempre possível melhorar o texto. Arrisque-se, extrapole a pauta e busque depoimentos que trarão algo diferente para o leitor. É esse o nosso trabalho…